News Bebê reborn: um reflexo da nossa sociedade doente Em vitrines coloridas ou nos braços de adultos emocionados, os bebês reborn chamam atenção pela semelhança impressionante com recém-nascidos reais. Com suas expressões serenas, detalhes minuciosos e até cheirinho de talco, essas bonecas ultrapassam a simples função de brinquedo e adentram um território emocional complexo. Mas o que essa tendência revela sobre a sociedade contemporânea? Os bebês reborn surgiram na década de 1990 como objetos de coleção, principalmente entre artistas e entusiastas do hiper-realismo. Com o tempo, porém, passaram a ser utilizados como ferramentas terapêuticas por pessoas em luto, mulheres que não puderam ter filhos ou que sofreram abortos, idosos com Alzheimer e até em treinamentos de cuidados neonatais. No entanto, o fenômeno ganhou proporções que levantam questões inquietantes. Em fóruns e redes sociais, é possível encontrar adultos que tratam os bebês reborn como filhos reais — com direito a enxoval completo, passeios em carrinhos, celebrações de “mesversário” e perfis nas redes sociais. Há quem fale com eles, os alimente com mamadeiras fictícias e compartilhe vídeos emocionados relatando vínculos profundos com seus “filhos de silicone”. Para psicólogos, o uso terapêutico dos bebês reborn pode ser válido em contextos controlados. No entanto, quando essa prática se estende e substitui relações humanas, ela pode indicar um sintoma de algo mais grave: a crescente dificuldade das pessoas em lidar com perdas, frustrações e afetos reais. A substituição do vínculo humano por um objeto inanimado — por mais realista que seja — revela um mundo em que a dor emocional é anestesiada pela fantasia. A sociedade contemporânea, marcada pelo individualismo, pelo imediatismo e pela hiperconectividade, criou um terreno fértil para essas manifestações. Em vez de buscar apoio em redes de afeto, diálogo ou acompanhamento psicológico, muitas pessoas recorrem a soluções simbólicas para preencher vazios emocionais profundos. Nesse contexto, o bebê reborn deixa de ser apenas um boneco: torna-se um espelho de nossas carências mais íntimas e do colapso das relações interpessoais. O debate não está em demonizar quem encontra conforto nesses objetos, mas em refletir sobre os limites entre o lúdico e o patológico. Quando a fantasia se torna fuga constante da realidade, ela pode deixar de ser cura para se transformar em sintoma. Os bebês reborn, tão silenciosos e perfeitos, revelam algo que a sociedade parece não querer escutar: estamos cada vez mais sozinhos, carentes e desconectados da vida real. Em tempos em que o afeto se esconde atrás de telas e os sentimentos são terceirizados, o sucesso dos bebês reborn é mais que um modismo. É um grito silencioso de uma sociedade doente, que tenta recriar no silicone o que não consegue construir em carne e osso. Facebook Comments Redação Compartilhar AnteriorCASACOR Brasília reúne convidados no Casapark em torno de Pedro Ariel Santana Nenhum Artigo 17/05/2025